25/01/2008

Ivrit


Há alguns anos, quando passava pelo viaduto da Avenida Dr. Arnaldo, via uma construção sendo erguida na primeira esquina da Rua Oscar Freire.
Aos poucos fui distinguindo a forma do enorme e improvável edifício:
Estava sendo feito na forma de um rolo da Torá sendo desenrolada.
Assim que ficou pronto e, evidentemente inaugurado, resolvi visitá-lo.
Era o Centro de Cultura Judaica.
Descobri que entre suas inúmeras atividades – palestras, exposições, coral, filmes e peças – também tinha um curso de Hebraico. E o que é melhor, a preços bem convidativos.
Não hesitei. Matriculei-me imediatamente para ter três aulas por semana pelas manhãs.
Excelente!
Gosto muito de línguas e de culturas de outros povos. Mas esta me desperta uma curiosidade a mais, pois a cultura judaica está na base da minha formação e cultura cristã.
Bem. Aprender uma língua, já per si, não é empreitada fácil e muito menos de curta duração. Considerando que o hebraico além de usar outro alfabeto, é escrito da direita para a esquerda, ficou-me evidente que a tarefa não iria ser das mais simples.
Ani lamed Ivrit. “Eu aprendo hebraico”, em caracteres ocidentais.
Mas não contava com a didática impecável dos mestres e a dedicação dos meus companheiros de sala. Há os caracteres que equivalem às nossas consoantes e pontinhos estrategicamente colocados para representar as vogais. Além disso, é uma língua (aramaico modernizado, quero crer) que foi planejada para ser o mais regular possível.
E assim, por muitas semanas, fui dedicadamente às minhas aulas de hebraico.
Não só sentia que estava aprendendo, como até pude escolher um nome hebraico para mim (Guy) e à cada aula, aprendia uma forma verbal nova, adquiria vocabulário novo e, logo, consegui formar novas sentenças, simples, mas novas o suficiente para sentir vontade de usá-las.
Além disso, o lugar oferece uma grande variedade de atividades culturais e interessantes, contemplando os múltiplos aspectos desta cultura milenar.
Então, como eu dizia, comecei a aprender hebraico e estava gostando do curso.
Mas aí aconteceu uma coisa, para mim, completamente surpreendente:
A partir de certo momento, o ensino deixou de incluir os tais pontinhos que indicavam as vogais?!?
O argumento didático que foi dado é perfeitamente razoável, eles ocorrem em lugares tão específicos que é possível, e até desejável retirá-los, pela simplicidade que introduzem na leitura e na escrita.
Mas eu, teimosamente, na minha rabugice de coroa, não pude deixar de achar que isso era, além dos argumentos apresentados, uma forma de humor judaico. Pra cima de nós, pobres Góis, é claro.
Naturalmente que não foi por esta razão que parei com as aulas, infelizmente alguns acontecimentos cotidianos impuseram-me limites e achei que uma interrupção era inevitável naquele momento.
Devo (e quero voltar) a aprender hebraico logo mais.
Entre outras coisas pelo humor que vislumbro na língua.
Faz parte, bem sei.
Afinal, quem me mandou ser Gói.