25/02/2010

O Muro Oeste
The West Wall


Pacientemente,
Em seus domínios,
Reconstruindo
Dia por dia, pouco a pouco,
O muro Oeste de sua modesta
Catedral.
Arte-Fatos
Pessoais Mentais.

oooOOOooo

Patiently,
In his domains,
Rebuilding
Day by day, little by little,
The West wall of his modest
Cathedral.
Personal Mental
Art-Facts.

15/01/2010

Extraterrestres


Gosto de cachorros. Até já tive cachorro quando era criança. Chamava-se Paddy e uma vez até, minha mãe, que trabalhava no Moinho Santista, emplacou um pulôver de cachorro com o nome dele bordado em uma propaganda. Eu gostei, ele nem ligou.

Gosto de cachorro, mas não tenho um. Tenho um gato, melhor dizendo, uma gata, chamada Mel. Não tenho porque minha casa não comporta e, desconfio, minha gata não suporta. É verdade que muita gente tem cachorro em apartamento, portanto seria possível ter um em minha casinha. Para isso, no entanto, teria que levá-lo passear duas vezes por dia, ou suprema humilhação, pagar alguém para fazer isso.

Aí está o xis da questão.

Cachorros não são como gatos. Gatos são autolimpantes e enterram seus dejetos. Cachorros não. Precisam sair às ruas para fazer suas necessidades e gastar energia. E como cachorro tem energia. Os gatos dormem dezesseis horas por dia. Antigamente não havia problema, os cães, assim como os gatos, viviam soltos, saíam a se aventurar pelas ruas e depois voltavam felizes, belos e faceiros, salvo um ou outro acidente. O Paddy, por exemplo, uma vez em que um entregador de mercearia se distraiu, bifou um quilo de filé-mignon do coitado.

Mas divago. O que queria dizer é que se extraterrestres por acaso viessem nos espiar e nos vissem passeando cachorros pelas ruas, andando atrás deles e recolhendo seus dejetos com saquinhos plásticos, qual você acha que eles concluiriam ser a raça dominante?

Os ETs provavelmente vêem as pessoas, os cachorros e seus cocôs, a desgraceira que os cães estão fazendo dessa nossa Terra e resolvem esperar outros tantos milhares anos até vir dar uma checada novamente, prá ver se já tomamos jeito.

Na minha opinião a maior prova de que existe vida inteligente fora do nosso planeta é que eles não descem.

08/01/2010

Caetanos Velosos


Outro dia li em uma crônica do Ivan Lessa na BBC Brasil duas coisas que me chamaram a atenção. Uma delas é que sempre que está para lançar um CD, um DVD ou um show o Caetano Veloso arruma uma polêmica.

Até aí, nada de mais. É o marketchim dele.

Depois o Ivan dá algumas informações dessas que se encontravam nos almanaques de antigamente, e essa foi a outra coisa que me chamou a atenção. Uma pulga pode pular até 350 vezes o comprimento do próprio corpo, e ele acrescenta: 'é como se um Caetano Veloso pulasse a distância de um campo de futebol'.

Isso me deu uma idéia.

Poderíamos medir as coisas em Caetanos Velosos.

Supondo que o Caetano Veloso tenha 1.75 de altura, poderíamos dizer que tal casa tem 20 Caetanos Velosos de frente por 50 Caetanos Velosos da frente aos fundos.

Ou supondo que ele pese 70 quilos, poderíamos dizer que um leãozinho pesa 1.40 Caetanos Velosos.

As possibilidades são infinitas.

Caetanos Velosos quadrados ou Caetanos Velosos cúbicos, por exemplo.

Caetanos Velosos de idade, por que não, por que não, já que sabemos que ele nasceu em 1942. O Oscar Niemeyer, que está com quase 102 anos, tem 1.5 Caetanos Velosos de idade.

Densidade, velocidade, duração e datação seriam outras medidas possíveis.

Getúlio Vargas tomou o poder A.C.V., em 1930; já Lula ascendeu à presidência D.C.V., em 2003.

É isso mesmo, com o tempo abreviaríamos tudo.

Tantos CVs quadrados, ou CV2. Tantos CVs cúbicos, ou CV3.

E assim por diante.

Desta forma ele estaria inserido na cultura brasileira de modo ainda mais indelével e permanente.

Seria citado com uma frequência bem maior. Estaria na boca do povo, como se diz, diariamente.

E não se diga que não há precedente na cultura popular brasileira: o nome dele já designa, informalmente, os sistemas de câmeras instaladas em semáforos para flagrar motoristas que os desrespeitam. Os populares Caetanos.

Poderíamos ir muito além.

Que tal?

Fica a sugestão.

02/01/2010

Uma Tarde Azul


Lugar: Travessa dos Cataventos.

Horário: digamos por volta de meio-dia.

Coloco a sacola com os livros, comprados num sebo da Rua da Praia, em cima de uma mesinha do lado de fora do restaurante. Estou suando em bicas da caminhada e peço ao rapaz na mesa ao lado para olhar a sacola enquanto finjo ir ao banheiro para desfrutar um pouco do ar-condicionado no lado de dentro.

Na volta, mais refrescado um tantinho, sento-me à mesinha. Logo a seguir, uma senhora que já havia visto sentada lá dentro, sai para fumar um cigarro.

O dia já começara bem. Sol, cidade nova (para mim, naturalmente), arborizada, agradável e disposição para sair à caça de seus tesouros.

Encontrei a primeira preciosidade na figura da Regina - simpática moça que trabalha no Espaço Mario Quintana – e outras nos livros de Ivan Pedro de Martins e no diário de Cecília de Assis Brasil.

Mas o melhor ainda estava por vir.

A senhora que saíra para fumar pergunta ao rapaz se pode partilhar de sua mesa enquanto fuma. Ele acede e me convida para juntar-me a eles.

Foi o começo de uma conversa pra lá de gostosa que levou horas, mais de duas só para nos interessarmos pelos nomes uns dos outros, tão leves e à vontade que estávamos os três.

Falamos de tudo um pouco. Da educação no Brasil, passando pelos melhores lugares de Porto Alegre, pelas cidades próximas que eram agradáveis no verão, das nossas profissões (ela educadora, ele músico, embora ainda dê expediente no Banco do Brasil), dos políticos e suas politicanalhices, das respectivas famílias, da vida que passava, da que já passou e da que ainda vai passar.

O Marcos, por exemplo, mencionou um escritor e uma cantora que não conhecia e que bastou chegar a São Paulo para ver na imprensa, como sói acontecer. Eu é que nunca tinha ouvido falar deles. Ainda não comprei o livro do escritor – João Gilberto Noll -, mas já estou ouvindo a Maria Gadú. Bela dica.

A alegria de viver e a disposição de Dona Yara me fizeram um bem danado naquele começo de tarde e me deu um saborear da cidade que teria sido impossível de outra forma.

Gostei barbaridade de Porto Alegre, tchê!, e não só por este auspicioso encontro casual.

A cidade é cheia de itens civilizados: desde faróis para pedestres que marcam o tempo que ainda resta para atravessar a rua, carros que param quando um pedestre pisa na faixa, até dispensadores de saquinhos plásticos para quem leva os cachorros para passear.

Afora, é claro, a gentileza, o calor e a urbanidade dos habitantes, de que são prova meus simpáticos companheiros de mesa.

Para não mencionar que lá é possível, para os que ainda teimam em fumar como eu, sentar em mesinhas de calçada e desfrutar do convívio das pessoas, três dos meus grandes prazeres na vida.

Ah, estávamos os três usando peças azuis, donde o nome desta crônica.

Por conta de tudo isso terminei 2009 e comecei o vinte-dez com o espírito alegre e feliz.